Allan Kardec

Codificador do Espiritismo

allan-kardec

O Homem

Na cidade de Lion, na França, nasceu no dia 3 de outubro de l804, aquele que se celebrizaria sob o pseudônimo de Allan Kardec. De tradicional família francesa de magistrados e professores, filho de Jean Baptiste Antoine Rivail e Jeane Louise Duhamel, foi batizado com o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail.

Desde cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da filosofia. Em Lion fez os seus primeiros estudos, seguindo depois para Yverdon, na Suíça, a fim de estudar no Instituto do célebre professor Pestalozzi. O instituto desse abalizado mestre era um dos mais famosos e respeitados em toda a Europa. Desde cedo Hippolyte Léon tornou-se um dos mais eminentes discípulos de Pestalozzi, estando inclusive, com a idade de 14 anos, ensinando aos condiscípulos menos adiantados, tudo o que aprendia. Tornou-se um dos seus mais distintos discípulos e ativo propagador de seu método, que tão grande influência teve na reforma do ensino na França e na Alemanha.

Concluídos os estudos em Yverdon, regressou a Paris, onde se tornou conceituado mestre não só em Letras, como na Ciência, distinguindo-se como notável pedagogo e divulgador do Método Pestalozziano. Conhecia diversas línguas, entre elas o italiano e alemão, tendo traduzido várias obras para o francês. Profundo conhecedor da língua alemã, traduzia para este idioma diferentes obras de educação e de moral, com destaque para as obras de François Fénelon(*), pelas quais manifestava particular atração.

(*) François Fénelon, pseudônimo de François de Salignac de La Mothe-Fénelon (6 de agosto de 1651 – 7 de janeiro de 1715), foi um teólogo católico apostólico romano, poeta e escritor francês, cujas idéias liberais sobre política e educação, esbarravam contra o “statu quo” da igreja e do Estado dessa época. Pertenceu à Academia Francesa de Letras.

Era membro de diversas sociedades, entre as quais da Academia Real de Arras, que, em concurso promovido em 1831, premiou-lhe uma memória com o tema “Qual o sistema de estudos mais de harmonia com as necessidades da época?”.

Contraiu matrimônio com a professora Amelie Gabrielle Boudet em 06 de fevereiro de 1832, conquistando uma preciosa colaboradora. O casal não teve filhos.

Como pedagogo, Rivail publicou numerosos livros didáticos. Apresenta na mesma época, planos e métodos referentes à reforma do ensino francês. Dedicou-se à luta para uma maior democratização do ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia e outros. Nesse período, preocupado com a didática, criou um engenhoso método de ensinar a contar e um quadro mnemônico da História de França, visando facilitar ao estudante memorizar as datas dos acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país.

O Codificador

Começa a missão de Allan Kardec quando, em 1854, ouviu falar pela primeira vez nas mesas girantes através do amigo Fortier, um pesquisador emérito do Magnetismo (Kardec a época interessava-se também pelo estudo desta ciência). Em princípio, Kardec revelou-se cético, face à sua posição de livre pensador, de homem austero, sincero e observador. Exigindo provas, mostrou-se inclinado à observação mais profunda dos ruidosos fatos amplamente divulgados pela imprensa francesa.

No ano seguinte, 1855, aceita o convite para assistir a uma sessão de mesas girantes, e vendo o fenômeno, ele se interessa profundamente. Vê ali um fenômeno inusitado que deveria merecer um exame cuidadoso. Ele decide então, aos 51 anos de idade, estudar o fenômeno mediúnico. Passa a frequentar a residência de diversos médiuns, recebe cadernos contendo anotações de mensagens recebidas anteriormente, discute, analisa, apresenta questões de grande profundidade aos Espíritos, convencido que está da realidade do mundo extra físico.

Dedicou-se à estruturação de uma proposta de compreensão da realidade baseada na necessidade de integração entre os conhecimentos científico, filosófico e religioso, com o objetivo de lançar sobre o real um olhar que não negligenciasse nem o imperativo da investigação empírica na construção do conhecimento, nem a dimensão espiritual e interior do Homem. Decidiu adotar o pseudônimo de Allan Kardec por dois motivos: primeiro para que o seu nome real, conhecido em Paris, não viesse a interferir na grandeza do livro, que segundo ele, deveria florescer pelo seu valor e não pelo autor que o subscrevia. Segundo, em homenagem a uma existência que ele tivera nas Gálias, no primeiro século antes de Cristo, onde fora um sacerdote druida denominado Allan Kardec. – nome esse (revelado à ele por um Espírito), que teria utilizado em uma encarnação anterior como Druida(*).

(*)Druidas (e druidesas) eram pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento, ensino, jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta. Embora não haja consenso entre os estudiosos sobre a origem etimológica da palavra, druida parece provir de oak (carvalho) e wid (raiz indo-européia que significa saber). Assim, druida significaria aquele(a) que tem o conhecimento do carvalho. O carvalho, nesta acepção, por ser uma das mais antigas e destacadas árvores de uma floresta, representa simbolicamente todas as demais. Ou seja, quem tem o conhecimento do carvalho possui o saber de todas as árvores.

O grande material estudado por ele, mais as centenas de questões propostas às Entidades Luminosas, deram condições ao professor Rivail de publicar a sua primeira obra, O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857. Esta data passou a ser considerada como a de fundação do Espiritismo.

Fundou em 01 de janeiro de 1858 a Revista Espírita, órgão mensal que deveria assumir um papel importantíssimo na divulgação da Doutrina e, no mesmo ano, no dia 1º de abril, ele funda a primeira sociedade espírita com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. No dia 15 de janeiro de 1861 lança O Livro dos Médiuns, e depois, sucessivamente, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Gênese.

Kardec passou os anos finais da sua vida dedicado à divulgação do Espiritismo entre os diversos simpatizantes, e defendê-lo dos opositores.

Obras Didáticas

O professor Rivail escreveu diversos livros pedagógicos, dentre os quais destacam-se:
• 1824 – Curso prático e teórico de Aritmética, segundo o método de Pestalozzi, para uso dos professores e mães de família;
• 1828 – Plano proposto para melhoramento da Instrução Pública;
• 1831 – Gramática Francesa Clássica;
• 1846 – Manual dos exames para os títulos de capacidade;
• 1846 – Soluções racionais das questões e problemas da Aritmética e da Geometria;
• 1848 – Catecismo gramatical da língua francesa;
• 1849 – Ditados normais dos exames da Municipalidade e da Sorbona;
• 1849 – Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas.

Obras Espíritas

As cinco obras fundamentais que versam sobre o Espiritismo, sob o pseudônimo Allan Kardec, são:
• O Livro dos Espíritos, Princípios da Doutrina Espírita, publicado em 18 de abril de 1857;
• O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, em janeiro de 1861;
• O Evangelho segundo o Espiritismo, em abril de 1864;
• O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, em agosto de 1865;
• A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, em janeiro de 1868.

Além delas, como Kardec, publicou mais cinco obras complementares:
• Revista Espírita (periódico de estudos psicológicos), publicada mensalmente de 1 de janeiro de 1858 a 1869;
• O que é o Espiritismo (resumo sob a forma de perguntas e respostas), em 1859;
• Instrução prática sobre as manifestações espíritas (substituída pelo Livro dos Médiuns; publicada no Brasil pela editora O Pensamento);
• O Espiritismo em sua expressão mais simples, em 1862;
• Viagem Espírita de 1862 (publicada no Brasil pela editora O Clarim).

Após o seu falecimento, viria à luz.
• Obras Póstumas, em 1890.
• O principiante espírita (pela editora O Pensamento)
• A Obsessão (pela editora O Clarim)

Faleceu em Paris, a 31 de março de 1869, aos 64 anos (65 anos incompletos) de idade, em decorrência da ruptura de um aneurisma, quando trabalhava numa obra sobre as relações entre o Magnetismo e o Espiritismo, ao mesmo tempo em que se preparava para uma mudança de local de trabalho.
Está sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, uma célebre necrópole da capital francesa. Junto ao túmulo, erguido como os dólmens druídicos, lê-se numa placa verde sua célebre frase:

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei”